( Mateus 21 :23-27).No
episódio relatado no texto acima, Jesus teve a oportunidade de
argumentar em defesa da sua autoridade, bem como de ameaçar com punições
no além aqueles que não se submetiam a ele. No entanto, Jesus não
respondeu a pergunta dos inquiridores, antes subordinou sua explicação à
resposta deles para um dilema que não estavam disposto a enfrentar.
Jesus não era autoritário, mas tinha legítima autoridade. Em razão
disso, o Filho de Deus não precisava se impor com ameaça e argumentações
falaciosas. Ele não procurava convencer os outros de sua posição, pois
sua distinção era notória, de acordo com o versículo abaixo :
"Maravilharam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem
autoridade e não como os escribas" (Marcos 1:22).
Os soldados que foram prender Jesus em uma certa ocasião é que foram
prendidos por sua pregação, e tiveram que se justificar perante seus
superiores, dizendo: " Nunca ouvimos alguém falar como aquele homem
falava".
Jesus não era
um dominador de consciências. A sua doutrina exposta por seus discípulos
foi transmitida primeiramente por ele através de seus atos. Quando ele
.perdoou o paralítico de seu pecados em virtude de sua fé, nos falou da
justificação pela fé; quando dizia para ir em paz aquele a quem
perdoava, mostrava que seu perdão era pleno e dava segurança já nesta
vida; com uma criança nas suas pernas, ele ensinou a humildade que
possibilita o arrependimento; no seu grito final (ESTÁ CONSUMADO) deixou
evidente o significado expiatório de sua morte. O mestre afirmou: "
Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e encontrareis
descanso para as vossas almas".
O Senhor não estava preocupado em convencer a todo custo os seus
opositores da veracidade de sua doutrina, pois ele sabia que os sinceros
discerniriam a sua procedência: " se alguém quiser fazer a vontade dele,
conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se falo por mim
mesmo" (João 7:17).
A
mensagem cristã, que confunde-se com a anunciação do próprio Jesus,
satisfaz o clamor humano por um caminho de retorno a Deus, bem como tem
a coerência interna que atende as exigências da razão humana, assim como
responde as necessidades existenciais de cada um de nós. Jesus se
proclamou " o caminho, a verdade e a vida". Ora, se a mensagem
evangélica se adequa às carências da natureza humana, então não precisa
ser imposta.
É verdade
que o pecado nublou a capacidade humana de discernimento, mas o Espirito
Santo atua sobre aqueles que ouvem a palavra de Deus com um coração
aberto, de tal modo que as escamas caem de seus olhos,
proporcionando-lhe a visão da beleza do evangelho.
Nos primórdios do cristianismo os apóstolos, seguros da integridade do
que pregavam, não anunciavam de forma impositiva a sã mensagem mas, com
muito zelo de evangelizar, anunciavam a Cristo, confiando na direção do
Espírito e esperando pelo toque divino nos corações. Não interessava
aqueles santos homens fazer adeptos, mas sim, convertidos. Em face
disso, não se colocavam como mediadores entre Deus e os homens, mas
apresentavam Cristo ao mundo, a fim de que cada um, de forma voluntária
e consciente, tivesse um encontro pessoal e direto com o Filho de Deus.
Vejamos alguns versículos que evidenciarão o que temos dito:
'Não que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas porque somos
cooperadores de vossa alegria; porquanto, pela fé, já estais firmados
"(II Cor. 1 :24).
"Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento,
mas espontaneamente, como Deus quer...nem como dominadores dos que vos
foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho " ( II Pedro
5:2,3 ).
"...Foi Paulo
crucificado em favor de vós ou fostes porventura, batizados em nome de
Paulo?" ( I Cor. 1 : 13 ).
Os pastores da igreja primitiva se viam como servos da igreja, sendo
eleitos pelos irmãos em assembléia congregacional ( Atos 14 :23 ).
Existiam cultos participativos em que todos podiam falar ( I Cor. 14:26
).
Na antiga comunidade
cristã só se reconhecia a autoridade da Escritura, e não por apego
supersticioso a um livro. Os cristão entendiam que Deus não podia ser
alcançado pela razão humana, pois se isso fosse possível, Ele seria
menor ou igual a nós. Em razão disso, Deus tinha que revelar-se para que
o homem pudesse conhecê-lo, e isso em dimensões humanas, o que ocorreu
através de Jesus. A Bíblia era o livro que falava de Jesus, logo tinha
que ser verdadeiro e fruto de inspiração para que a revelação de Deus em
Cristo não fosse vã, já que esta só foi conhecida nas gerações
posteriores à ascensão de Cristo através do texto sagrado. Os irmãos
eram cristocêntricos e não biblicistas, ou seja, amavam a Bíblia na
medida em que por ela conheciam a Jesus.
Não quero aqui afrouxar os padrões elevados e santos do evangelho, nem
muito menos questionar os seus relatos sobrenaturais que são
irrefutáveis, mas gostaria de contender com os métodos legalistas de
alguns pregadores que pretendem controlar os outros e dominar a
consciência alheia, como se a obediência por "pressão" tivesse algum
valor diante de Deus, e como se o evangelho fosse tão fraco que
precisasse se valer dessa coisas.
É lamentável que lideres religiosos determinem aos seus discípulos os
que estes podem ler, fixando um verdadeiro INDEX, bem como estabeleçam
as igrejas que eles podem visitar, esquecendo-se que o apóstolo Paulo
reconheceu a capacidade dos verdadeiros cristãos julgarem por si mesmo
as coisa espirituais, dizendo: " Examinai tudo, retende o que é bom " (
I Tess. 5 :21 ).
Concluo este artigo, citando as palavras de Martinho Lutero: 'Que
miséria maior pode haver na igreja do que ser aglutinada não pelo amor,
mas pela força? Que os pontífices imperem não pela bondade, mas pelo
poder? Que os súditos sirvam não por amor, mas coagidos por ódio e
temor?