Liderança Especial - Congresso da Sepal Devolvam a minha igreja!
Ariovaldo Ramos
Ouvi, certa feita, que um preletor, convidado para falar a pastores, começou
sua pregação dizendo ter um recado diretamente de Cristo, e que o recado
era: Devolvam a minha Igreja!
difícil julgar algo assim,
teria mesmo o recado vindo do Senhor? Pode ser que não, porém, para mim, faz
todo o sentido ter vindo dele, pois, é assim que eu sinto a igreja hoje,
como usurpada de Cristo Jesus. Talvez isso não tenha nada a ver com você, em
princípio, mas pense na Igreja que está no Brasil como um todo. É a sua
igreja. Em que o ursurpamos?
1- na ênfase trocamos o amadurecimento pelo
crescimento
"E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e
nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram
feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e
tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o
produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente
perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as
suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e
contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o
Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos." Atos 2.42-47
O texto é claro: os apóstolos ensinavam, os discípulos insistiam em andar
conforme o ensino; estava-lhes sendo desenvolvida a consciência de que a fé
que abraçaram exigia mudança de vida, nova forma de ser e de viver. Estavam
sendo conscientizados de que a obra de Deus era, em primeira instância, eles
mesmos, como disse Paulo:
"E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a
glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria
imagem, como pelo Senhor, o Espírito." 2 Co 3.18
Deus quer que todos os seus filhos sejam a "cara" , o caráter do irmão mais
velho: "Porquanto
aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à
imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos." Rm 8.29.
Nesse texto, salvar é transformar.
Insistiam na comunhão, em ficar juntos, em partilhar tudo, em comer juntos,
estava-lhes sendo desenvolvida a consciência de que eram um só, um homem
coletivo, o sonho de Jesus Cristo, como disse Paulo:
Que Cristo morrera "a fim de criar em si mesmo um só Homem Novo,
estabelecendo a paz" Ef 2.15 (BJ)
Parece que estavam aprendendo a andar na contra mão do individualismo; gosto
de imaginar que não havia essa profusão de canções na primeira pessoa do
singular, onde, não importa em meio a quantos o cristão esteja, ele age como
se o culto fosse a celebração dele, exclusivamente, assim como a benção;
talvez daí a razão de sua inquietação, quando a coisa não acontece do jeito
que ele queria. Diferentemente da igreja primitiva, parece que, para nós,
dizer Pai Nosso não significa nada. Quando enxergaremos o corpo? Quando
entenderemos que trabalhar pela unidade é projeto pastoral local? Quando
compreenderemos que, embora o relacionamento com o Pai seja pessoal, o
reflexo disso deve, necessariamente, também, passar pelo coletivo?
Ganhavam, a cada dia, a compreensão de que a igreja tinha um propósito:
"no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de
Deus no Espírito." Ef 2.22
Estavam compreendendo que embora Davi tenha tido o desejo de construir uma
casa para Deus, e Salomão tenha tido a impressão de que a construíra, quem,
de fato, estava construindo a casa de Deus era Jesus Cristo, pela mediação
do Espírito Santo, porque um Deus vivo só pode morar numa casa viva. E nessa
casa viva eles tinham um papel a cumprir, como Pedro disse:
"também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual
para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais
agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo." 1 Pe 2.5.
Portanto, tinham de, como pedras vivas, se deixar adequar pelo Espírito
Santo, o grande artesão construtor da casa viva do Deus Vivo, ao molde que
este estabelecera para cada qual dos tijolos: Jesus de Nazaré.
Serviam a sociedade à sua volta, pois, contavam com a simpatia de todos, o
que só se explica pelo serviço que prestavam aos circunstantes. Estavam
aprendendo a agir como o seu senhor que, conforme descreveu Pedro:
Ungido com o Espírito Santo e com poder, "andou por toda parte, fazendo o
bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele." At
10.38 E, assim, a
Igreja tinha uma mensagem conseqüente a pregar, pregava o que vivia e a
partir do que vivia, concordando com o seu Deus que disse:
"Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um
monte." Mt 5.14 A
igreja tem de viver o que prega para que cada cristão possa pregar o que
vive. "Enquanto
isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos." At
2.47 A igreja
prega, e prega a partir da vida, o Senhor acrescenta, pois como está
escrito:
"Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o
ressuscitarei no último dia. ...E prosseguiu: Por causa disto, é que vos
tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido."
Jo 6.44;65 Sem a
ação do Espírito Santo não há conversão, sem conversão não há pedra viva,
sem pedra viva não há edifício vivo, se não há edifício vivo não há igreja.
Poderemos, sem a ação do Espírito, estar edificando um clube, uma
denominação, mas não a Igreja Viva, morada do Deus Vivo!
Certa feita encontrei-me com um seminarista em fim de curso, indaguei-lhe
sobre sua ordenação, ele respondeu-me que, por causa das mudanças ocorridas
em sua igreja, ele agora teria de, primeiro, formar um número de células e,
só então, poderia pleitear a ordenação. Fiquei a pensar, e se o Espírito
Santo não cooperar com ele? Ou será que vale qualquer tipo de célula? Que
será que Jesus fez com aquele grupo de discípulos que deu o "azar" de ir às
cidades que, conforme advertira o Senhor, rejeitariam a sua mensagem? Será
que Jesus os rejeitou como apascentadores de seu rebanho pelo fato de
ter-lhes acontecido o que Ele mesmo dissera ser possível: foram rejeitados?
Por que é tão difícil para nós entendermos isso? Por que estamos querendo
substituir o Senhor no seu papel de ser o que acrescenta? Será que é porque
achamos que o Senhor não é tão bom de "marketing" quanto nós o somos? Porque
estamos deixando de lado o nosso serviço para fazer o serviço do Senhor?
Os apóstolos doutrinavam, oravam e levavam a orar:
"Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é
razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Mas,
irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito
e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos
consagraremos à oração e ao ministério da palavra." At 6.2-4.
Por que para nós é tão difícil entender que discipular é o papel que temos
de desempenhar, que os ministérios existem para isso?
"E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para
evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento
dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de
Cristo." Ef 4.11,12.
Onde está escrito aqui, acrescentar pessoas ao corpo de Cristo? Enquanto
trocamos de papel, nossas ovelhas andam perdidas, procurando por Cristo, à
deriva de charlatães. Enquanto buscamos avidamente por métodos infalíveis de
crescimento, aceitando acriticamente qualquer coisa, sem fazer passar pelo
crivo da eclesiologia, transformando, assim, nossas igrejas em empresas com
metas de crescimento, transformando as ovelhas em mão de obra barata, em
sustentadores de nossos sonhos; a mídia anuncia que nos afastamos de Cristo
e nos tornamos expertos em auto ajuda. Quem nos seduziu com essas
metodologias de tal modo que, por causa delas, provocamos, mais uma vez, uma
onda de divisão de igrejas? Tornamo-nos pastores de programas ao invés de
nos mantermos pastores de pessoas.
Quero encerrar essa parte lembrando o relatório de Cristo ao Pai:
"Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado
aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da
perdição, para que a Escritura se cumprisse." Jo 17.12
Jesus poderia, em seu relatório, ter incluído os milagres, as maravilhas,
como acalmar a tempestade, andar sobre as águas, os atos extraordinários,
como ressurreição de mortos, multiplicação de pães e peixes. Mas Jesus era
pastor: "Eu sou o
bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas." Jo 10.11, disse ele.
Nós somos pastores, recebemos, de Deus, pessoas, temos de entregar pessoas.
Recebemo-las marcadas pelo comportamento fútil, que herdaram de seus pais,
temos de entregá-las transformadas à imagem e semelhança de Cristo,
recebemo-las marcadas pelo individualismo temos de entregá-las homem
coletivo, unidas no corpo de Cristo.
Crescimento é problema de Deus, amadurecimento é problema nosso. Em ambos os
casos o poder é do Espírito Santo, busquemo-lo enquanto se pode achar.
2 - nós o usurpamos na mensagem
Lembremo-nos de como Cristo começou o seu ministério, lembremo-nos de sua
mensagem: "Daí por
diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo
o reino dos céus." Mt 4.17.
O que quer esta mensagem dizer, por que a proximidade do reino de Deus exige
arrependimento?
"O aspecto mais distintivo do ensinamento moral de Jesus é o reinado de
Deus. Ele conclama as pessoas a arrependerem-se e crerem no evangelho de
Deus, porque se completou o tempo de espera determinado por Deus, e o
reinado de Deus já fez sua aparição, se bem que de maneira oculta.
Arrepender-se significa afastar-se do antigo modo de vida para abraçar novo
modo de vida sob o reinar de Deus. Nesse novo modo de vida, a fé no
evangelho ou boa nova de Deus referente ao reinado desempenha papel central.
Essa fé, porém não é uma virtude entre outras; é a virtude oniabrangente
pela qual a pessoa percebe a presença oculta do governo régio de Deus. As
pessoas crêem para ver" diz Frank Matera no seu livro Ética do Novo
Testamento, os legados de Jesus e de Paulo, da editora Paulus.
A idéia exposta é que Deus vem para por a casa em ordem, vem para decretar o
fim da rebelião. A história que a Bíblia conta é a de uma rebelião contra
Deus, à qual a raça humana aderiu; quando Cristo vem ao mundo, o faz para
dar consecução ao processo de por fim à rebelião, começado com o chamado de
Abraão; a chegada de Jesus é anunciada como a plenitude do tempo.
"Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de
mulher, nascido sob a lei" Gl 4.4
Veio para resgatar-nos, mas, também, para anunciar que os homens estavam sob
ultimato, tinham de arrepender-se do estado de rebelião, porque estava
próximo o reino de Deus, isto é, o Criador vem para inaugurar um estado de
coisas onde só a sua vontade será feita, de fato este reino já está presente
em Cristo e naqueles que o seguirão, breve tomará toda a Terra; dele só
participarão os que se arrependerem de seu estado de rebelião, revelado por
seus pecados.
Este reino é a esperança e o clamor dos crentes.
"Venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu." Mt
6.10. Este reino é
o fim da história como hoje a entendemos, e o começo de uma nova história.
"Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será
jamais destruído; este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá
todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre." Dn 2.44
Este reino exige uma metamorfose radical no ser humano, caso contrário ele
não poderá nem vê-lo, nem nele entrar; o que deixa claro que quando alguém
vê esse reino, já está dentro. Porque só quem entrou consegue vê-lo, ele só
pode ser visto pelo lado de dentro. É como se alguém passasse sempre por uma
nave invisível, até que um dia é sugado para dentro dela e, então,
inevitavelmente, a vê.
"Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos
judeus. Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és
Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu
fazes, se Deus não estiver com ele. A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em
verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de
Deus (o reino é invisível aos que não nasceram de novo). Perguntou-lhe
Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar
ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em
verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no
reino de Deus (ao nascer de novo, a pessoa, imediatamente entra no reino,
logo, como nascer de novo é, também, condição para ver o reino, quando a
pessoa vê o reino, já está nele). O que é nascido da carne é carne; e o que
é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos
nascer de novo. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes
donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito." Jo
3.1-8 O reino
ainda é invisível, mas já está presente.
"Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes
respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo
aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós." Lc 17.20,21
Estar no reino é ter saído do estado de rebelião e vindo para o estado de
adoração que é marcado pela obediência.
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas
aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus." Mt 7.21
O evangelho que Jesus pregava era o evangelho do reino.
"E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas,
pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e
enfermidades." Mt 9.35
Em que a pregação das boas novas estaria associada à realidade de um reino
que vem com um ultimato a todo o ser humano? No fato de que ele é anunciado
antes de ser promulgado. Não só é anunciado com preveniência, como aos
homens é dada a oportunidade dele participar; estas são as boas novas: Deus
está dando aos homens a oportunidade de romperem com o rebelde e com a
rebelião e voltarem para o estado donde nunca deveriam ter saído, ao estado
de adoração que se distingue pela obediência. Esta oportunidade é
proporcionada pela graça que Deus derramou abundantemente aos homens através
do Filho. Graça esta que só é possível porque o Filho sacrificou-se pelo
homem, morrendo para pagar pelo crime que a raça humana cometeu em Adão,
caso contrário, não haveria nenhuma chance para o ser humano e a vinda do
reino de Deus significaria a imediata condenação para o homem por toda a
eternidade, ou seja, o executar da ira de Deus.
"Vendo ele, porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao batismo,
disse-lhes: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura?" (Mt
3.7) disse João Batista.
"Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém
rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de
Deus." (Jo 3.36) Disse também.
"Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente, acumulas contra ti mesmo
ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus, que retribuirá
a cada um segundo o seu procedimento: a vida eterna aos que, perseverando em
fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade; mas ira e
indignação aos facciosos, que desobedecem à verdade e obedecem à injustiça."
(Rm 2.5-8) Disse Paulo.
Quantos crentes sabem que Deus está irado? Quantos crentes sabem que Jesus
Cristo não veio para nos livrar dos problemas que temos, sejam nossas
fraquezas, nossas lutas pessoais, nossos pecados individuais, nem mesmo da
opressão do diabo, mas, da ira de Deus?
"Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo
morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo
justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque, se nós,
quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho,
muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida." Rm
5.8-10. Deus está
irado porque o homem deu ouvidos ao rebelde e se rebelou contra Deus, mas,
porque nos ama, enviou-nos o seu Filho para pagar o preço que a justiça
divina exigia por tal crime, isto custou a Sua vida.
Quantos crentes sabem que ser salvo pela graça não significa que, uma vez
que Cristo resolveu tudo na cruz, agora podemos viver do jeito que
quisermos? Quantos crentes sabem que ser salvo pela graça significa que,
finalmente, estaremos em condição de ser aquilo para o que fomos criados?
"Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom
de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele,
criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou
para que andássemos nelas." Ef 2.8-10.
O "pois" no versículo nos remete para o objetivo de Deus em nos salvar,
levar-nos de volta a vida que fomos criados para viver, que Paulo chama de
boas obras preparadas de antemão por Deus para que nelas andássemos.
Este é o evangelho do reino, é o evangelho da transformação, o evangelho da
obediência; depois que este evangelho for pregado em todo o mundo virá o
fim. "E será
pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as
nações. Então, virá o fim." Mt 24.14.
Quem nos induziu a pregar esse evangelho que chama os homens a vir a Cristo
para, simplesmente, parar de sofrer? A vir, tão somente, para receber a sua
benção? Esse evangelho que transformou Deus no fiel mordomo pronto a nos
abençoar? Que nos informa os nossos direitos como filhos de Deus e remete
nossas obrigações para uma pseudo-graça? Lembro-me de um bom irmão que, num
culto, resolvido a falar sobre a oração que alcança a benção de Deus, abriu
a bíblia na parábola do filho pródigo e informou aos presentes que, se eles
quisessem, de fato, lançar mão da benção divina, teriam de falar ao Senhor
como o filho pródigo falou a seu pai. Pensam que ele estava se referindo à
oração de arrependimento do filho em questão? Não! Ele disse aos irmãos que
deveriam dirigir-se ao Pai e dizer-lhe, com toda a clareza: dá o que é meu!
Dá o que é meu, repetiu ele em alta voz!
Quem nos induziu a pregar um evangelho que diz que Deus está sempre pronto a
nos perdoar indefinidamente, porque compreende nossa fraqueza e
inconstância? Ouçamos novamente a João Batista e a Cristo:
"Vendo ele (João Batista), porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao
batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira
vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; e não comeceis a
dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que
destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão." Mt 3.7-9.
"Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais." (Jo 8.11) Disse Jesus à
mulher pega em adultério
"Olha que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa
pior." (Jo 5.14) Disse Jesus ao homem que havia curado no tanque de betesda.
E o que nos disse João, o discípulo amado?
"Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que
permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque
é nascido de Deus." 1 Jo 3.9. Ninguém está falando de perfeição ou de
impecabilidade, estamos falando de coerência.
Onde está este evangelho do Reino? Onde está o evangelho que diz que ser
salvo é ser salvo da ira divina? Não é a toa que a igreja moderna está cheia
de "crentes" que vivem flertando com o adversário de nossas almas. Quantos
crentes foram, de fato, informados de que estavam em estado de rebelião? Que
tinham de publicamente romper com o maligno e hipotecar obediência ao Pai,
sob a autoridade do Filho?
Veja como, segundo E. Glenn Hinson, no seu livro "Vozes do cristianismo
primitivo" em parceria com Paulo Siepierski, da editora Sepal em co-edição
com a editora Temática, acontecia na igreja primitiva, por ocasião do
batismo: "Quarenta
dias antes da páscoa, a época normal para batismo, o mestre (ou bispo)
finalmente decidia quais dos catecúmenos deveriam receber o batismo. Sua
decisão era baseada no estilo de vida dos catecúmenos enquanto no
catecumenato - se tinham vivido corretamente e manifestado amor cristão no
cuidado dos pobres, daqueles em prisão, das viúvas e órfãos, e de outros
necessitados. (a vida era observada para saber se a mudança operada pela
graça estava presente, e vida voltada para o próximo, não bastava ter
atendido ao apelo, tinham de aparecer os frutos dignos de arrependimento).
Em seguida, os catecúmenos recebiam a imposição de mãos, eram "selados" com
o sinal da cruz na testa e salgados - símbolos de que eles já não mais
pertenciam ao diabo, mas a Cristo. Então, recebiam instrução diária e
exorcismos até serem batizados. Os exorcismos eram importantes porque
expulsavam as hostes satânicas que oprimiam os catecúmenos até que o
Espírito Santo os libertasse de uma vez por todas (a libertação tinha de se
dar na história e não apenas na confissão de fé). Na quinta-feira antes do
batismo e no domingo de páscoa, os catecúmenos passavam por uma lavagem e
purificação preparatória. Na sexta-feira e no sábado, jejuavam. Ainda no
sábado, havia um último exorcismo; o bispo fazia um selo com o sinal da cruz
e, então, se iniciava uma vigília que durava a noite inteira.
O rito do batismo... tinha um papel central na preparação dos catecúmenos em
sua luta contra os espíritos. Normalmente, o batismo tinha a seguinte forma:
- Oração sobre a água invocando o Espírito Santo para santificar e dar
poderes à água. - Remoção de toda a roupa para batismo em nudez. -
Benção do "óleo de ações de graças" pelo bispo. - Exorcismo do "óleo de
exorcismo". - Renúncia a "Satanás, sua pompa e seu serviço" pelo
batizando - com a face para o ocidente. - Unção com o óleo do exorcismo
(sobre o corpo inteiro) por um presbítero. - Reconhecimento de Cristo ou
da Trindade pelo batizando - com a face para o oriente. - Tripla imersão,
cada vez acompanhada respectivamente da confissão do Pai, do Filho e do
Espírito Santo. - Unção com o óleo de ações de graças (sobre o corpo
inteiro) por um presbítero. - Se vestir de novo e se juntar à assembléia
(lavapés em algumas igrejas). - Imposição de mãos pelo bispo, invocando a
graça do Espírito Santo. - O bispo ungia com o óleo consagrado, selava na
testa e dava o beijo da paz. - Orações com toda a assembléia e troca de
beijos da paz. - Celebração da eucaristia, incluindo algumas vezes a
distribuição de leite e mel.
A instrução pós-batismal...começou no quarto século, quando o batismo e a
ceia do Senhor passaram a ser mantidas em secreto por causa dos pagãos. A
instrução normalmente consistia de seis períodos de explicação dos
"mistérios", ou seja, o batismo e a ceia do Senhor.
Um estudo dos sermões e tratados sobre batismo na época dos Pais da igreja,
confirma a impressão crida pelas observâncias batismais enunciadas, ou seja,
que todo o processo de iniciação almejava preparar o novo convertido para
sua batalha contra os espíritos. Por trás desse objetivo estava o seguinte
raciocínio: antes de se tornar cristão, acreditava-se, o convertido era
súdito de Satanás, sendo literalmente, e não apenas em teoria, mantido
cativo. Isso era verdade em relação a todos os cidadãos do "mundo", a esfera
dominada por Satanás. O caráter e os hábitos desses cidadãos tinham sido
moldados por poderes demoníacos; estavam servindo Satanás em suas vocações e
ocupações. Algumas vocações, particularmente, representavam os interesses de
Satanás - feitiçaria, confecção de ídolos, corrida de cavalos, luta em
combates de gladiadores, prostituição, alcovitamento, ensino em escolas
pagãs, etc. Quando
uma pessoa se tornava cristã, deveria quebrar o jugo dos espíritos e não
deixar nenhum vestígio do controle deles, para que ela pudesse se submeter
totalmente a Cristo e participar em seu reino. (é importante notar que o
alvo era Cristo e o seu reino, e não qualquer satisfação que se devesse
prestar ao inimigo)"
É claro que não precisamos concordar inteiramente com todas as práticas e
rituais da igreja primitiva. A história já nos ensinou que entre os pais
houve quem careceu de maior perspicácia e sabedoria. Entretanto, a prudência
nos aconselha a prestar, pelo menos, um pouco de atenção ao que faziam; eles
tinham mais consciência da questão da rebelião do que demonstramos ter
agora, talvez, por isso, algumas questões no que chamamos confronto
espiritual nos cause tanto transtorno, ora por não sabermos explicar o que
está acontecendo com nossas ovelhas, ora por entendermos que está havendo um
exagero e um descaso para com a Palavra de Deus. O certo, porém, é que a
conversão se dá num ambiente de rebelião que precisa ser denunciado, o
convertido não era apenas um ignorante era um inimigo de Deus.
"Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele,
pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus." Tg 4.4.
"Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos
quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da
potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência;
entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da
nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por
natureza, filhos da ira, como também os demais." Ef 2.1-3.
Nossas ovelhas sabem disso? Sabem que eram inimigas de Deus? Ou temos entre
nós aqueles que, mesmo tendo estado já há algum tempo entre os filhos de
Deus, afirmam que sempre acreditaram em Deus, apenas faltava-lhes algumas
informações? Ou pior, aquelas que pousam de vítimas do diabo, por
ignorância, mas que Deus sempre soube que o coração delas era bom, por isso
as salvou? Têm elas consciência de que, outrora eram filhos da ira divina,
andavam segundo o príncipe da potestade do ar? Que eram filhos da
desobediência? Foi-lhes pregado o evangelho do reino? Se não, talvez não
seja de estranhar as lutas por que passam, sua inconstância, sua angústia!
Será que Cristo, para fazer a sua obra, precisa que certos rituais seja
cumpridos? Penso que não. Mas quem é idôneo para discernir essas coisas? Os
apóstolos tiveram de ir completar o trabalho de Filipe, (At 8.4-17) por que?
Bem...não é disso que estamos falando, mas, de anunciarmos o evangelho do
reino, o evangelho que fala da rebelião, da ira de Deus, do arrependimento,
da obediência, do verdadeiro papel da graça, do custo da salvação para o
Senhor Jesus Cristo.
Quando pregaremos de fato este evangelho do reino? Quando, então, virá o
fim? 3- nós
o usurpamos na questão do temor
"Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes,
aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo." Mt
10.28. Quem é este
que fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo? O Deus Trino,
diremos todos! E esta é sem dúvida a resposta certa.
Então, por que nossas ovelhas vivem morrendo de medo do adversário, com se
fosse ele tal protagonista?
"Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos
pecados." (Atos 3.19). Disse o apóstolo Pedro.
Arrependimento e conversão são passos dados pelos homens, pela graça, em
direção a Deus. Creio que todos estamos concordes nisso.
Então, por que nossas ovelhas vivem vasculhando o seu passado em busca de
coisas pelas quais devem ou deveriam se arrepender, de modo a impedir que o
inimigo se utilize das brechas para prejudicá-las. Arrependimento é para
Deus, para o adversário é palavra de autoridade. O que houve com a santidade
ao Senhor? Toda
a luta contra o inimigo se sustenta na santidade ao Senhor. Senão, vejamos:
"Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós." Tg 4.7
(BC) "Levanta-te, santifica o povo e dize: Santificai-vos para amanhã,
porque assim diz o SENHOR, o Deus de Israel: Anátema há no meio de vós,
Israel; diante dos vossos inimigos não podereis suster-vos, até que tireis o
anátema do meio de vós." Jos 7.13. Não adianta tirar as potestades de seus
pretensos esconderijos em estátuas ou coisas afins, é preciso tirá-los do
nosso coração; elas se escondem no nosso orgulho, vaidade, soberba e
arrogância. Para derrotarmos Satanás na cidade temos de primeiro ser, de
fato, os justos da cidade, vestir a couraça da justiça não é um ato mágico é
uma postura de coerência frente as demandas éticas de Deus. Jamais
derrotaremos o inimigo nas cidades se não nos levantarmos contra as
fortalezas da injustiça alojadas nas estruturas iníquas da má política, do
estado desvirtuado de suas funções e do mercado; não fomos chamados a
barganhar poder com os políticos da cidade, fomos chamados para exigirmos,
em nome de Jesus, que se arrependam da corrupção, do descaso, do abuso de
poder. Jamais derrotaremos as trevas se não corrermos para salvar as
crianças seviciadas e abandonadas, não amarraremos o diabo se não nos
levantarmos contra a matança de crianças nas nossas esquinas, contra as
chacinas em nossos bairros; se não corrermos para alimentar os famintos,
vestir os nus, visitar os enfermos e os encarcerados. Para fazermos isso
temos de ser exemplos da nova humanidade inaugurada na cruz e na
ressurreição, exemplos de devoção, de solidariedade e de fraternidade. Sal
da terra e luz do mundo. Conscientes de que nada substitui a santidade e a
consagração ao Senhor, nosso primeiro dever.
Se é assim, por que o povo de Deus tem substituído a santidade por novenas,
jejuns e afins, trocando a santidade por um suposto sacrifício que não passa
pela confissão e o abandono dos pecados e pelo compromisso com a justiça?
"Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para
convosco." 1 Ts 5.18
Se esta é a vontade de Deus para conosco, de onde vieram tanta murmuração,
impaciência e resmungos contra Deus? Donde tantas exigências? Alguém me
disse que encontrara um amigo cristão que estava irado com Deus, e que este
lhe disse: - olha, não estou mais dizendo glória a Deus, nada de glória a
Deus; Deus ainda não disse a que veio; fiz uma listinha de coisas que
preciso, enquanto Deus não me der respostas satisfatórias, nada de glória a
Deus... De onde
veio isso? Como foi que tal loucura nos acometeu?
Temos ensinado sobre o temor de Deus? Temos dito que Deus é o totalmente
outro, como disse o teólogo de Basiléia? Temos dito que diante de Deus
chega-se reverentemente? Que se não fosse o sangue do Cordeiro seríamos
consumidos por causa do que nos tornamos em nossa natureza? Talvez por isso
a sabedoria já não esteja tão presente entre nós. Talvez por isso as
barbaridades de toda a natureza estão sendo absorvidas na Igreja sem maiores
traumas. "Mas os
primeiros governadores, que foram antes de mim, oprimiram o povo e lhe
tomaram pão e vinho, além de quarenta siclos de prata; até os seus moços
dominavam sobre o povo, porém eu assim não fiz, por causa do temor de Deus."
Ne 5.15 É o temor
do Senhor que nos aparta do mal. Nada mais para o ser humano em sua
inclinação para a maldade.
"Quem conhece o poder da tua ira? E a tua cólera, segundo o temor que te é
devido? " Sl 90.11
A ausência de temor provoca a ira divina.
"Então, entenderás o temor do SENHOR e acharás o conhecimento de Deus."
Pv2.5 Sem o temor
do Senhor não há revelação, sem revelação não há conhecimento do Senhor, sem
o conhecimento do Senhor o povo perece.
"O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento." Os 4.6
"Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o
bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim."
Jr 32.40 O temor
do Senhor é que nos mantêm fieis. Ninguém para de adulterar por causa da
esposa, ninguém para de mentir por causa da verdade; ninguém para de roubar
por causa dos filhos. Só o temor do Senhor nos aparta da maldade. Certa
feita, por ser, na ocasião, secretário geral da AEvB, fui entrevistado no
jornal nacional, o tema era a descoberta do ibge do crescimento do número de
brasileiros que se diziam sem religião; o repórter, num dado momento
perguntou-me: se as pessoas pararem de acreditar em alguma coisa, o que as
fará recuar, o que as impedirá de abraçar a maldade em benefício próprio?
Ele havia percebido o ponto, só o temor de Deus para o ser humano.
"Todos ficaram possuídos de temor e glorificavam a Deus, dizendo: Grande
profeta se levantou entre nós; e: Deus visitou o seu povo." Lc 7.16
Quando Deus se manifesta entre os seres humanos, com sua glória, a primeira
manifestação destes é o temor; quando esta manifestação não está presente, é
de se pensar se foi Deus mesmo que esteve por lá.
Temos de voltar a exortar nossas ovelhas ao temor e à obediência, à honra e
ao louvor. 4-
nós o usurpamos na postura pastoral
"Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e
testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que
há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por
constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida
ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram
confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo
Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória." 1 Pe 5.1-4
Pedro chamou-nos a todos de presbíteros, anciãos supervisores do rebanho, o
que, aliás, já não interessa mais à liderança da igreja moderna na sua busca
incessante por títulos que lhe concedam cada vez mais notoriedade e
"status". O título, pastor, que usamos já é uma inserção na história, que
dizer das novas propostas mirabolantes? Parece que nos esquecemos do que
disse Eugene Peterson, que somos apenas pecadores cuidando de pecadores, e
que a pecadores fica bem a discrição e a modéstia.
Parece, também, que nos esquecemos que o rebanho é de Deus, ora tratamo-lo
como um mercado, uma fonte de renda, um grupo de consumidores, ora
permitimos que outros o tratem como tal. Ora o tratamos como propriedade,
sempre prontos a nos servir, ora como nossas cobaias, onde testamos toda
sorte teses e modelos sem, nem sempre nos preocuparmos devidamente com as
conseqüências; e é gente machucada pra cá e pra lá; ora o tratamos como os
mantenedores de nossos sonhos megalômanos. O rebanho é de Deus, custou o
sangue de Cristo, estamos lá para pastoreá-lo, não para explorá-lo. Será que
ainda tememos a Deus? Ou acreditamos que o Senhor do rebanho nos deu uma
procuração com poderes irrestritos?
Pastoreio não pode ser uma profissão, tem de ser para sempre vocação. Ainda
que precisemos de sustento, temos de ser eternos amadores, isto é, movidos
só pelo amor, pelo prazer de fazer, pastor tem de gostar de gente.
Nem ganância nem domínio, exemplo. Para podermos ser os representantes de
Cristo temos de ser os imitadores de Cristo.
Temos de recuperar nossa escatologia, pastorear na perspectiva da volta de
Cristo e não da resposta imediata, principalmente no que tange à nossa
recompensa. Não é a igreja que vai nos recompensar é o supremo pastor.
Tudo que fizermos temos de fazê-lo em função daquele que estamos
representando, do jeito dele.
Não se pode alterar as suas ênfases, como está sendo feito, por exemplo com
a visão missionária, que vem diminuindo a olhos vistos, por causa dessa onda
de modismos pró crescimento que nos tem assolado. Temos de cumprir o mandato
de anunciar o Senhor simultaneamente em todo o mundo: "tanto em Jerusalém,
como em toda a judéia, samaria e até os confins da terra" At 1.8. Igreja que
não faz missão perde relevância no reino. E igreja irrelevante no reino
acaba desaparecendo na história.
Há muito tempo, sem o saber eu fiz uma profecia, estava conversando com dois
irmãos queridos que, desanimados com o Brasil, então hiper inflacionário,
diziam não ver futuro para a nação; eu disse que tinha uma visão diferente,
que acreditava que o problema seria solucionado; perguntado porque,
respondi: por que creio que Deus quer fazer da igreja brasileira um celeiro
de missionários, e Ele sabe que não se faz missão com economia instável.
Minha profecia, parece, que se cumpriu. Quantas bençãos essa nação já não
terá recebido em função da obediência da igreja nesse quesito, e quanta
poderá deixar de receber se a igreja continuar a desviar-se dos propósitos
do supremo pastor?
Talvez essa mensagem não tenha nada a ver com você diretamente, talvez você
não tenha caído em nenhuma dessas tentações. Mas olhe para a igreja que está
no Brasil, como um todo. Essa é a nossa maior batalha espiritual. Todos nós
somos responsáveis pela igreja, temos de reagir, temos de deixar de
olhar-nos como isolados na história, temos de nos levantar para dizer que
não concordamos, temos de assumir o papel que o Senhor nos tem reservado
nesse momento histórico pelo qual o país está passando, não podemos ficar
passivos, não podemos deixar a igreja de Cristo seja jogada na vala comum
dos institutos corrompidos desse país. De que adianta nos lamentarmos de
estarmos sendo confundidos com os não sérios, se não marcamos posição, se
não nos organizamos para, como Daniel clamar pela misericórdia de Deus? De
que adianta lamentarmos o estado dos muros caídos de Jerusalém, se não nos
levantamos como Neemias e nos organizamos para a reconstrução denunciando os
Sambalás da história.
Não dá para fazer nada dizemos, não temos a mídia, não somos nós que falamos
com os formadores de opinião na cidade, com os políticos. Os não sérios são
mais ágeis. E se
nos organizássemos? Nós, os sérios, nos reconhecemos nas cidades onde
estamos. Por que não nos encontramos? Por que não nos posicionamos? Por que
não começamos movimentos paralelos? Por que não mobilizamos nossas
comunidades? Por que não organizamos nossas próprias marchas? Por que não
dizemos a verdade? Quem há de lutar "pela fé de uma vez por todas confiada
aos santos"? jd 3.
Que diremos se o Senhor, na sua volta, nos perguntar: por que vocês deixaram
isso acontecer, eu lhes confiei a igreja, por que vocês deixaram isso
acontecer? Ariovaldo Ramos, 44
anos, autor dos livros "Veja sua cidade com outros olhos.", e "Igreja. E
eu com isso?", ambos da Editora Sepal. É missionário da Sepal e pastor da
Igreja Cristã Reformada em São Paulo.
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